REFLEXÃO - Viver o luto, cultivar a memória, continuar a vida!

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Nada pode substituir alguém que se foi. O espaço outrora ocupado, continuará ocupado, mas agora pelas lembranças, e sempre será o local daquele que já não está mais entre nós. Deveras vezes tratamos a ausência como um fim. Mas esquecemos que a vida é um ciclo ininterrupto, iniciada por alguns, continuada por outros, passada de geração em geração, para dar continuidade.
 
Por mais dolorosa que a falta de um ente querido faça, não podemos nos esquecer que se morre fisicamente, mas a continuidade da vida se dá pelos que aqui ficam, e que, se tão importante foi aquele que partiu, é nossa obrigação continuar sua história, mas agora prosperando seus feitos, multiplicando seus ensinamentos e confirmando seus valores, aqui deixados como legado.
 
Devemos sim guardar o luto, respeitá-lo, como parte fundamental para reorganizarmos nossa vida. Dessa maneira que a continuidade da história daquele que se foi é respeitada e também celebrada. Precisamos com essa experiência de perda, aproveitarmos mais os momentos daqueles que aqui ainda estão.
 
Os que não estão com certeza desejariam um minuto a mais para um abraço, para um “eu te amo”, para não deixar para depois, para o momento certo, para amanhã, demonstrar nosso afeto. E essa é mais uma forma de reconhecermos quão importante foi aquele ente que já não está entre nós, agindo com aqueles que estão ao nosso lado, no seio de nossa família, de forma a reforçar os afetos, através de atitudes. Nossas limitações são parte dolorosa do luto. Demonstram quanto precisamos edificar um convívio com mais expressões de importância. Se não foi nos ensinado a levar ao ato nossos sentimentos, que sejamos nós os nossos professores.
 
Que busquemos aprender a dizer quanto amamos nossos pais, nossos filhos, nossos esposos e esposas, nossos pais e mães, nossos colegas de trabalho. Essa, sim, é uma forma de mostrarmos o quanto aquele se foi de nossas vidas tinha importância, pois foi por uma perda irreparável, que reparamos para quem está conosco. É uma maneira primordial de deixar viva a história de quem nos deixou, pois tanto nos ensinou durante sua passagem por essa vida, que até depois, ainda afetou positivamente a nossa continuidade.
 
Como diria Santo Agostinho:
 
A morte não é nada. Eu somente passei para o outro lado do caminho. Eu sou eu, vocês são vocês. O que eu era para vocês, eu continuarei sendo. Me deem o nome que vocês sempre me deram, falem comigo como vocês sempre fizeram. Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador. Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos. Rezem, sorriam, pensem em mim. Rezem por mim. Que meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem ênfase de nenhum tipo. Sem nenhum traço de sombra ou tristeza. A vida significa tudo o que ela sempre significou. O fio não foi cortado. Porque eu estaria fora de seus pensamentos, agora que estou apenas fora de suas vistas? Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do caminho... Você que aí ficou, siga em frente... A vida continua, linda e bela como sempre foi.


Tiago Rafael Reckziegel Rodrigues
 
Psicólogo e Mestre e Psicanálise
Setor de Psicologia Escolar – CV São José Foz
 
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