Mês Vocacional - Corações Ardentes, Corações Aprendentes!

Na tradição cristã católica, o mês de agosto é conhecido como Mês Vocacional, e se apresenta como um tempo especial para refletirmos e celebrarmos essa dimensão que acompanha nossa experiência pessoal e comunitária de vivência da fé: a vocação. Como sabemos, essa palavra deriva do termo latino vocare, que é comumente traduzido como chamado, chamamento. Entendemos, assim, que a vocação é um chamado amoroso que recebemos de Deus, cuja descoberta e resposta nos move a tecer nossa existência com propósito e sentido.

 

Em 2023, a referência ao mês vocacional vem acompanhada de um outro evento especial que está sendo vivenciado na Igreja do Brasil, que é o 3º Ano Vocacional, que tem como tema “Vocação, graça e missão” e o lema “Corações ardentes, pés a caminho”, este último inspirado na passagem bíblica dos discípulos de Emaús (cf. Lc 24). Desse enfoque recolhemos a inspiração para dinamizar o marcador vocacional dentro de nossas comunidades educativas: “Corações ardentes, corações aprendentes”.

 

O que educação e vocação têm em comum? Tudo! Ambas nos remetem a uma experiência que nos acompanha a vida inteira, envolvendo nossas individualidades e relações, nas múltiplas dimensões que permeiam nossa presença e ação no mundo. A experiência escolar que marca as infâncias, adolescências e juventudes é um momento especial da formação pessoal e coletiva, que nos coloca em contato com as motivações fundamentais que orientam nossas escolhas existenciais, profissionais, relacionais.

 

Quem eu sou? Para e por que eu existo? Qual é o sentido da vida? O que Deus quer de mim? O que é ser feliz? Que profissão pode contribuir para minha realização como pessoa e como cidadão? – Essas e outras perguntas nos acompanham nas travessias de descobertas de si, do outro, do mundo, assumindo particularidades em cada faixa etária. Mobilizar e acompanhar situações de aprendizagem voltadas para essa dimensão integram nosso compromisso com uma educação integral e cuidadora das interioridades. Como escola católica e vicentina, nosso carisma confessional se apresenta como um instrumento precioso para inspirar e mediar essas experiências.

 

Assim, olhamos para a proposta temática do ano, cuja simbologia de referência é o coração, como um convite à reflexão e celebração da vocacionalidade da vida. Quando falamos em coração, logo pensamos em nossos sentimentos e emoções, na dimensão afetiva existência. Contudo, se buscarmos as raízes bíblicas, o coração nos é apresentado como o lugar das decisões e escolhas fundamentais da vida de uma pessoa. Por isso, guardar no coração não significa relegar algo ao plano dos afetos, mas dar à questão uma importância singular em nossos projetos de vida.

 

Por outro lado, se olharmos para as funcionalidades biofísicas do coração como órgão no corpo humano, percebemos seu papel vital na oxigenação e bombeamento do sangue para todo nosso organismo. O coração ativo é o que nos permite estar vivos. Sua tarefa é fundamental para o funcionamento harmonioso dos demais órgãos, tecidos e células que nos compõe. Em analogia, podemos refletir igualmente sobre aquilo que, simbolicamente, oxigena e nutre nossa vida, especialmente em relação à nossa personalidade e caráter. Para além ou juntamente com as funcionalidades do nosso corpo biológico, o que nos mantém vivos? O que nos faz querer estar vivos?

 

Pelas lentes da espiritualidade cristã, percebemos a vitalidade da nossa existência traduzida no projeto amoroso que Deus tem para cada pessoa, para a humanidade e o planeta, ao que damos o nome de vocação. As fibras de nosso ser foram tecidas no coração do Abbá e comunicadas pela força terna do Espírito na pessoa e no projeto de Jesus de Nazaré. A experiência do amor cuidador do Deus Trindade faz arder o nosso coração, mover os nossos passos numa atitude permanentemente aprendente. Nos passos de Luísa de Marillac e Vicente de Paulo, assumimos essa atitude aprendente sintonizada com o compasso do coração das pessoas das mais vulneráveis e empobrecidas.

 

A escola é um espaço singular onde pulsam muitos e diversos corações; é um lugar de experiências que nos movem por dentro e por fora. No diálogo criativo e respeitoso de nossas diferenças, o Mês Vocacional alarga as possibilidades de olharmos para nossas trajetórias existenciais e educativas sob esse prisma de acolhida do dom de Deus sobre nós e da resposta generosa a ele, e que se traduz nas muitas vocações específicas que assumimos. Como educadores/as, estudantes e famílias, em parceria com o Serviço de Animação Vocacional Vicentino (SAVV) de nossa Província, queremos celebrar e compartilhar, nesse Mês Vocacional, a boniteza de sabermo-nos amados/as e cuidados/as pelo coração de Deus, que move o nosso coração a assumir com alegria e inteireza a nossa vocação.