Reconhecido no calendário eclesial como o Mês da Bíblia, setembro também marca a recordação da vida e obra de São Vicente de Paulo (1581-1660), referência primeira junto com Santa Luísa de Marillac, na gênese da Educação Vicentina. Revisitar a história de nossos Fundadores nos permite colher intuições e valores que contribuem para as aprendizagens e as relações vividas na escola hoje, sejam elas presenciais ou virtuais.
Com essa inspiração, o Marcador Pastoral Bíblico-Vicentino, que este ano assume como tema “Solidariedade em Rede: conectad@s com a vida”, se apresenta como uma proposta metodológica para dinamizar esses momentos fortes da identidade de carisma de nosso projeto educativo.
A temática de 2020 está em sintonia com o tema orientador do ano – Vamos Junt@s Cuidar de Gente! Cuidar da Gente!, que tem como objetivo é o engajamento e aprofundamento da Pedagogia Vicentina, como também considera o novo cenário colocado pela pandemia da COVID-19.
Aprofundando o tema
Como um dos sete valores da Educação Vicentina, a solidariedade é uma dimensão latente do carisma vicentino, também entendida sob a ótica da caridade. Na Pedagogia Vicentina ela é apresentada como “o valor de buscar sempre o bem comum”, “um princípio e um projeto para uma nova humanidade por meio do qual se chega à justiça” (PV, 93), “expressão concreta de uma fé viva” (94).
A solidariedade em rede nos remete tanto ao espaço de encontros e relações, mediados pela tecnologia, bem como aos projetos de ajuda e cuidado mútuo. Uma rede de solidariedade se constitui a partir da colaboração de múltiplos e plurais sujeitos em torno de causas que os mobilizam em vista de uma ação cuidadora.
Nosso compromisso fundamental é sempre com a vida, horizonte de nossas conexões em rede e como rede. A centralidade da Palavra de Deus e do carisma residem na promoção de vida em abundância para todas as pessoas (cf. Jo 10,10), aspecto amplamente abordado na Campanha da Fraternidade de 2020 (Fraternidade e Vida: dom e compromisso), da qual são recolhidos os verbos que motivam para a reflexão: olhar, compadecer-se e cuidar.
Um apelo atual
O atual momento que vivemos nos pede um movimento de reinvenção do que somos e do que fazemos, nos dispondo a aprender e reaprender caminhos para cuidarmos uns dos outros, umas das outras. Estes tempos de isolamento social e de rígidas prescrições sanitárias estão a nos indicar o quanto somos interdependentes, o quanto nossas ações e opções têm impacto na vida das outras pessoas e no ambiente em que vivemos.
Fazer o bem, “sempre e em toda parte”, como nos convida Vicente de Paulo, nos impele a tecermos nossa missão com as fibras do cuidado à humanidade toda: à humanidade que também somos nós – e aqui se situa a urgente tarefa de cuidar da dimensão socioemocional de nossas relações, bastante fragilizadas nesse momento – e à humanidade que está além do alcance de nossas conexões remotas, mas que compõe a grande rede que somos.
Esse é o horizonte da Palavra de Deus comunicada na Sagrada Escritura que revisitamos de modo singular no mês de setembro. Só há sentido em ler os livros da Bíblia se for com o propósito que eles nos ajudem a ler o livro da vida, escrito todos os dias no chão que pisamos.